sexta-feira, 14 de novembro de 2008

O ser professor no Portugal de hoje.

Tive uma conversa longa com uma professora na qual tentei perceber porque é que alguém é professor. Esta professora tem ainda a particularidade de ser professora de uma coisa chamada Actividades de Enriquecimento Curricular, vulgo AEC. Basicamente são aulas de Inglês, Música, Actvidade Física e Movimento, Teatro e outras tantas disciplinas. Isto para o primeiro ciclo, isto é, para a miudagem da primária. concordo interamente com o princípio. Dotam as crianças de conhecimentos básicos de forma a estarem mais familiarizados com o processo de ensino, com o terem vários professores e até mesmo com a fatia mais básica dos conhecimentos.

Mas isto tem uma outra face: a dos professores. Primeiro são actividades, não aulas. Ou seja, os profissionais não são bem professores, mas dão aulas. Depois não podem ser contratados pela escola e não são contratados pelo ministério. Tem de haver uma "Entidade Promotora". Normalmente a Associação de pais, a Autarquia Local ou a Santa Casa da Misericórdia. Mas as respectivas Direcções Regionar de Ensino é que controlam as actividades. Ou seja, não contratam, não fazem a gestão do dia-a-dia, mas mandam. Basicamente podem colher os louros ou "dar na cabeça". Mas caso a coisa não corra bem, há a entidade promotora para escudar. Cheira um bocadinho mal, digo eu.

Depois, e da mesma forma, há os vínculos. Ou a asência deles. O recibo verde impera. Mas um professor das AEC não pode ter um horario completo, normal de professor. Não porque isso seria um falso recibo verde e, como todos sabemos, o Estado não pactua com essas coisas (enfim... sem comentários). Acabamos por ter pessoas, que são educadores e preparadores de crianças, em quem elas confiam o futuro, mas que não podem ter regalias. Acaba por haver casos de professores que estão em duas escolas, por vezes afastadas. fazendo umas horas aqui e outras ali, tentando completar o horario. Mas mesmo assim, tem de ser às escondidas porque, mais uma vez, a Direcção Regional não aprova.

Depois o pagamento. As entidades demoram a pagar mutias vezes. Muitas só pagam no fim do ano, todo o ano transacto. Aqui tenho de deixar uma nota em especial à Santa Casa da Misericórdia que, tanto quanto sei, paga direitinho a tempo e horas. Mas isso é excepção. Ouve-se de tudo. Mas no fim fica a minha pergunta: Porque raio estão estas pessoas a dar aulas? O que é que as faz levantar todos os dias e ir a um sítio onde são mal tratados e desconsiderados. Onde lhes querem dar ordens mas não querem assumir a responsabilidade da gestão de facto. Onde até têm medo de adoecer porque o próprio professor é que tem que arranjar um substituto para essa falta.

Afinal, o que é ser professor no Portugal de hoje? É minha opinião que é absoluta vocação. Se calhar equiparada à devoção que leva um homem a abandonar os prazeres da carne (em teoria pelo menos) e dedicar-se ao sacerdócio católico. Eu, sinceramente, não o consigo entender. Mas a verdade é que os professores existem e constituem uma franja profissional extensa. Será que alguém alguma vez terá coragem de olhar para esta classe e regula-la como ela merece?

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